quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Costela de Anão


Sou uma costela retorcida e deformada. Nada existe neste momento e neste mundo; o que existe é uma costela que dói. É a dor de uma costela. Eu sou apenas o apêndice indigno de uma costela dolorida, uma parte que incomoda, que vira o todo, que me envergonha. Uma feia deformidade é o que sou. Um gauche completo.
Por mais que tente corrigi-la fazendo mil exercícios, ela se move mas não volta ao normal; ela é rija, é osso. Será que alguma vez ela foi normal?
Penso e imagino tantas maneiras e maquinações para curá-la, reeducá-la, fazê-la voltar a sua posição que presumo seja a correta. Nunca consigo por mais que tente. Ela fica soldada, assim torta e denuncia a minha tortice completa. Tortice e tortura.
A costela me tortura. Eu me torturo. Ela me lembra a minha pequenez. Pequenez de anão. Não é a costela de Adão, o arquétipo humano, a base positiva do homem. É costela de anão.
É a marca da deformidade, da inaceitação de mim mesmo, a marca do complexo.
Ela mostra que há coisas em mim que não têm redenção, não têm cura, não têm jeito.
São como as pedras que não se transformam, que permanecem imutáveis por tanto tempo que parecem eternas.
São fixas e rígidas como partes mortas que chegaram antes da própria morte.
Da minha morte

2 comentários:

Roque Tadeu Gui disse...

Ô cara, pôrra!

Vai escrever bem assim na casa do chapéu! Brilhante "Costela de anão"! Impecável! Queria ter escrito algo assim. Parabéns, meu velho safado!

Roque.

Roque Tadeu Gui disse...

Caro Rubens,

Tent novamente postar meu comentário. Espero que desta vez funcione! Não conhecia o texto, pelo visto escrito há algum tempo. Muito bom! Desejaria tê-lo escrito. Conciso, por outro lado hillmaniano. Escreva sempre!

Roque.